Por Tereza Virgínia Ribeiro Barbos
Editoria Alexia Teles Duchowny
Esta tradução foi realizada pela trupe de tradução Truπersa em processo coletivo e envolveu tradutores do grego, encenadores, uma direção artística, atores e músicos. Coube a mim o prazer da direção de tradução do grego para o português. Acompanhei cada passo dos tradutores, redirecionei alguns, assumi minha própria direção definindo trilhas, desvios, atalhos e também rodeios. Ofereço-lhes aqui um pequeno trecho de nosso trabalho, o prólogo da peça. O texto traduzido é, ainda, inédito, embora já tenha sido encenado várias vezes. Mais um ano e teremos a tragédia Hécuba, de Eurípides, completamente traduzida para publicação. O texto foi escolhido para tradução como uma homenagem póstuma a Polidoro († primavera de 420 a.C.) e Alan Kurdi († 02 de setembro de 2005). A história se repete, é fácil notar.
Costa da Trácia (Turquia, Grécia e Bulgária). O enredo: Troia foi derrotada. Polidoro, herdeiro de Troia, foi cruelmente morto sob a guarda do rei da Trácia. O assassino foi o próprio rei trácio, Poliméstor, que, depois do crime, se apossou das riquezas do príncipe e jogou seu cadáver no mar. O corpo aparece na praia como o de Alan Kurdi, achado na costa da Turquia. A mãe encontra-o. Que será da idosa Hécuba, sem marido, sem filhos, sem pátria? Antiguidade e contemporaneidade batem o mesmo compasso.
Os versos que selecionamos constituem a fala inaugural do fantasma de Polidoro, cuja aparição precede o achamento do corpo pela rainha destronada.
Texto grego: Euripidis Fabulae, vol. 1. Gilbert Murray. Oxford. Clarendon Press, Oxford. 1902. Projeto Perseus: http://www.perseus.tufts.edu
Πολυδώρου εἴδωλον | Aparição de Polidoro |
Ἥκω νεκρῶν κευθμῶνα καὶ σκότου πύλας | Saí! Rompi o ventre dos mortos e as portas de |
λιπών, ἵν᾽ Ἅιδης χωρὶς ᾤκισται θεῶν, | treva de onde mora Hades, longe dos deuses. |
Πολύδωρος, Ἑκάβης παῖς γεγὼς τῆς Κισσέως | Polidoro, da Hécuba de Cisseu, filho nascido de |
Πριάμου τε πατρός, ὅς μ᾽, ἐπεὶ Φρυγῶν πόλιν | Príamo, pai que, a mim, no que o pavor de cair |
κίνδυνος ἔσχε δορὶ πεσεῖν Ἑλληνικῷ, | sob a lança grega prende a cidade dos frígios, |
δείσας ὑπεξέπεμψε Τρωικῆς χθονὸς | arrebatado, na calada, do torrão troiano me |
Πολυμήστορος πρὸς δῶμα Θρῃκίου ξένου, | abriga no ninho de um hóspede trácio: Poliméstor, |
ὃς τήνδ᾽ ἀρίστην Χερσονησίαν πλάκα | o que, adestrando um povo cavaleiroso, sob lança, |
σπείρει, φίλιππον λαὸν εὐθύνων δορί. | semeia esta ótima várzea da península aí. |
πολὺν δὲ σὺν ἐμοὶ χρυσὸν ἐκπέμπει λάθρᾳ
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Mas pai, às canhas, despacha muito ouro comigo: |
πατήρ, ἵν᾽, εἴ ποτ᾽ Ἰλίου τείχη πέσοι, | “É pra que, se um dia a torre ilíada tomba, |
τοῖς ζῶσιν εἴη παισὶ μὴ σπάνις βίου. | pros filhos vivos, miséria de vida não haverá.” |
νεώτατος δ᾽ ἦ Πριαμιδῶν, ὃ καί με γῆς | Era caçula dos Priâmidas, então ele me fez |
ὑπεξέπεμψεν· οὔτε γὰρ φέρειν ὅπλα | da terra escapulir: é que nem bater armas e |
οὔτ᾽ ἔγχος οἷός τ᾽ ἦ νέῳ βραχίονι. | nem levar gládio um braço, assim menino, podia. |
ἕως μὲν οὖν γῆς ὄρθ᾽ ἔκειθ᾽ ὁρίσματα | E pelo tempo em que firmes as fronteiras da terra |
πύργοι τ᾽ ἄθραυστοι Τρωικῆς ἦσαν χθονὸς | e inteiros os muros da gleba de Troia ficassem, |
Ἕκτωρ τ᾽ ἀδελφὸς οὑμὸς εὐτύχει δορί, | e o irmão meu, Heitor, acertava com a lança; |
καλῶς παρ᾽ ἀνδρὶ Θρῃκὶ πατρῴῳ ξένῳ | viçoso e com o hóspede paterno, o varão trácio, |
τροφαῖσιν ὥς τις πτόρθος ηὐξόμην τάλας·
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às fartas, qual broto daninho, eu crescia! |
ἐπεὶ δὲ Τροία θ᾽ Ἕκτορός τ᾽ ἀπόλλυται | Aí, depois que se esvai Troia – e o sopro de |
ψυχή, πατρῴα θ᾽ ἑστία κατεσκάφη, | Heitor – e a férula do pai se apagou e ele |
αὐτός τε βωμῷ πρὸς θεοδμήτῳ πίτνει | próprio, no altar do deus, cai dessangrado |
σφαγεὶς Ἀχιλλέως παιδὸς ἐκ μιαιφόνου, | pelo carniceiro dο filho de Aquiles, aí, pelo |
κτείνει με χρυσοῦ τὸν ταλαίπωρον χάριν | ouro o hóspede do pai mata esse infeliz aqui, |
ξένος πατρῷος καὶ κτανὼν ἐς οἶδμ᾽ ἁλὸς | e, no que morto me fez, no turbilhão do mar |
μεθῆχ᾽, ἵν᾽ αὐτὸς χρυσὸν ἐν δόμοις ἔχῃ. | me largou, pra que, em casa, só com o ouro ficasse. |
κεῖμαι δ᾽ ἐπ᾽ ἀκταῖς, ἄλλοτ᾽ ἐν πόντου σάλῳ, | Então, boio sobre recifes e mais lá no sumidouro |
πολλοῖς διαύλοις κυμάτων φορούμενος, | d’água. De arrasto, nos vai-e-volta das ondas, |
ἄκλαυτος ἄταφος· νῦν δ᾽ ὑπὲρ μητρὸς φίλης
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sem choro, sem velas, por cima de Hécuba, mãe |
Ἑκάβης ἀίσσω, σῶμ᾽ ἐρημώσας ἐμόν, | querida, exilado do corpo meu, me derramo. Oh, que |
τριταῖον ἤδη φέγγος αἰωρούμενος, | já é o terceiro fulgor que marejo, dês que, |
ὅσονπερ ἐν γῇ τῇδε Χερσονησίᾳ | de Troia, tá’qui, na terra desta península |
μήτηρ ἐμὴ δύστηνος ἐκ Τροίας πάρα. | aí, a minha dolorosa mãe. E os aqueus |
πάντες δ᾽ Ἀχαιοὶ ναῦς ἔχοντες ἥσυχοι | todos, atracados barcos, sossegados, |
θάσσουσ᾽ ἐπ᾽ ἀκταῖς τῆσδε Θρῃκίας χθονός· | descansam nos recifes deste torrão trácio! |
ὁ Πηλέως γὰρ παῖς ὑπὲρ τύμβου φανεὶς | É que, da tumba, o filho de Peleu fulgiu; |
κατέσχ᾽ Ἀχιλλεὺς πᾶν στράτευμ᾽ Ἑλληνικόν, | Aquiles retém todo esquadrão grego: os que |
πρὸς οἶκον εὐθύνοντας ἐναλίαν πλάτην· | pra casa direto, mar afora, já remos batiam! |
αἰτεῖ δ᾽ ἀδελφὴν τὴν ἐμὴν Πολυξένην
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Ele exige, na tumba, ter a minha irmã |
τύμβῳ φίλον πρόσφαγμα καὶ γέρας λαβεῖν. | Polixena como troféu e oferta amiga. E isso |
καὶ τεύξεται τοῦδ᾽ οὐδ᾽ ἀδώρητος φίλων | aí logrará e não ficará, da parte dos varões |
ἔσται πρὸς ἀνδρῶν· ἡ πεπρωμένη δ᾽ ἄγει | amigos, sem prenda! E tal oferta puxa |
θανεῖν ἀδελφὴν τῷδ᾽ ἐμὴν ἐν ἤματι. | pra morrer, neste dia de hoje, a minha irmã. |
δυοῖν δὲ παίδοιν δύο νεκρὼ κατόψεται | E dos dois filhos, a mãe verá dois defuntos |
μήτηρ, ἐμοῦ τε τῆς τε δυστήνου κόρης. | no chão: eu e mais a lastimosa moça-vestal. |
φανήσομαι γάρ, ὡς τάφου τλήμων τύχω, | Desponto então – pra ganhar um triste enterro – nos |
δούλης ποδῶν πάροιθεν ἐν κλυδωνίῳ. | carneirinhos d’onda, ante as passadas duma escrava. |
τοὺς γὰρ κάτω σθένοντας ἐξῃτησάμην | E aos potentados lá de baixo suplico lograr |
τύμβου κυρῆσαι κἀς χέρας μητρὸς πεσεῖν. 50 | um túmulo e mergulhar nos braços da mãe. |
τοὐμὸν μὲν οὖν ὅσονπερ ἤθελον τυχεῖν | Por mim, é certo, tudo o que quero ter há de |
ἔσται· γεραιᾷ δ᾽ ἐκποδὼν χωρήσομαι | ser! Mas saio pra longe da fanada Hécuba! |
Ἑκάβῃ· περᾷ γὰρ ἥδ᾽ ὑπὸ σκηνῆς πόδα | Aí, ó, eis! Ela, a pé, à sombra do abrigo |
Ἀγαμέμνονος, φάντασμα δειμαίνουσ᾽ ἐμόν. | de Agamenão, aterrada por meu fantasma. |
φεῦ· | Beú! |
ὦ μῆτερ, ἥτις ἐκ τυραννικῶν δόμων | Ô mãe, tu que, de soberbas moradas, |
δούλειον ἦμαρ εἶδες, ὡς πράσσεις κακῶς | vês o dia servil… tão mal agora quanto antes |
ὅσονπερ εὖ ποτ᾽· ἀντισηκώσας δέ σε | bem! No que um dos deuses no prumo |
φθείρει θεῶν τις τῆς πάροιθ᾽ εὐπραξίας.
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assim te botou, arriou o triunfo de outrora. |
Ἑκάβη | Hécuba |
ἄγετ᾽, ὦ παῖδες, τὴν γραῦν πρὸ δόμων, | Levai, meninas, pra frente do abrigo, a velha; |
ἄγετ᾽ ὀρθοῦσαι τὴν ὁμόδουλον,
60 |
levai a serva igual a vós, aprumadas |
Τρῳάδες, ὑμῖν, πρόσθε δ᾽ ἄνασσαν· | troianas, eis aqui a soberana de antes! |
[λάβετε φέρετε πέμπετ᾽ ἀείρετέ μου] | [segurai, arrimai, ladeai, erguei-me] |
γεραιᾶς χειρὸς προσλαζύμεναι· | vós, ajudantes de minha mão anciã! |
κἀγὼ σκολιῷ σκίπωνι χερὸς | E eu, mão apoiada em vergado |
διερειδομένα σπεύσω βραδύπουν | amparo, acelero devagar; com |
ἤλυσιν ἄρθρων προτιθεῖσα. | passadas traspés, vou adiante. |
ὦ στεροπὰ Διός, ὦ σκοτία νύξ, | Ô faísca de Zeus, ô trevosa noite! |
τί ποτ᾽ αἴρομαι ἔννυχος οὕτω | Que é isso d’eu espiritar noite adentro em |
δείμασι φάσμασιν; ὦ πότνια Χθών, 70 | pavores assomados!? Ô terra soberba, |
μελανοπτερύγων μᾶτερ ὀνείρων, | mãe dos sonhos negralados, |
ἀποπέμπομαι ἔννυχον ὄψιν, | varro-me assombrada co’as visagens, |
[ἣν περὶ παιδὸς ἐμοῦ τοῦ σῳζομένου κατὰ Θρῄκην | [as de meu menino, guardado no fundo da Trácia, |
ἀμφὶ Πολυξείνης τε φίλης θυγατρὸς δι᾽ ὀνείρων
75 |
e as de Polixena, filha querida, que por sonhos |
εἶδον γὰρ φοβερὰν ὄψιν ἔμαθον ἐδάην.] | vi; é certo, depurei, apurei: cena medonha.] |
ὦ χθόνιοι θεοί, σώσατε παῖδ᾽ ἐμόν, | Ó deuses do meu torrão, guardai o filho meu, |
ὃς μόνος οἴκων ἄγκυρ᾽ ἔτ᾽ ἐμῶν 80 | qu’ele, só, é âncora da minha casa |
τὴν χιονώδη Θρῄκην κατέχει | e suporta a invernosa Trácia |
ξείνου πατρίου φυλακαῖσιν. | sob a guarda do hóspede do pai. |
ἔσται τι νέον· | Êa! Que nova será!? |
ἥξει τι μέλος γοερὸν γοεραῖς. | Que toada virá nesta dolente entoada!? |
οὔποτ᾽ ἐμὰ φρὴν ὧδ᾽ ἀλίαστον 85 | Como nunca, meu peito, assim |
φρίσσει ταρβεῖ. | quialterado, lateja, pulsa. |
ποῦ ποτε θείαν Ἑλένου ψυχὰν | Onde sei, enfim, de Heleno e Cassandra, |
καὶ Κασάνδραν ἐσίδω, Τρῳάδες, | d’alma santa deles, troianas, pra modo |
ὥς μοι κρίνωσιν ὀνείρους; | de os sonhos eles, pra mim, clarearem? |
εἶδον γὰρ βαλιὰν ἔλαφον λύκου αἵμονι χαλᾷ 90 | Pois eu vi: uma corça malhada, lancetada pela unha |
σφαζομέναν, ἀπ᾽ ἐμῶν γονάτων σπασθεῖσαν ἀνοίκτως.
|
sangrante dum lobo, arrebatada de meus joelhos sem dó. |
καὶ τόδε δεῖμά μοι· ἦλθ᾽ ὑπὲρ ἄκρας | Este aqui é meu pavor: vai que chega de cima, |
τύμβου κορυφᾶς | no topo da tumba, |
φάντασμ᾽ Ἀχιλέως· ᾔτει δὲ γέρας | o fantasma de Aquiles e pede um prêmio… |
τῶν πολυμόχθων τινὰ Τρωιάδων.
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uma das tão padecentes troianas! |
ἀπ᾽ ἐμᾶς ἀπ᾽ ἐμᾶς οὖν τόδε παιδὸς | Arrenego; nego que isso contra minha filha |
πέμψατε, δαίμονες, ἱκετεύω. | atireis; divindades, eu vos rogo! |
Χορός | Coro |
Ἑκάβη, σπουδῇ πρός σ᾽ ἐλιάσθην | Hécuba, escapei ligeiro rumo a ti, |
τὰς δεσποσύνους σκηνὰς προλιποῦσ᾽, | fugida das tendas dos comandantes, |
ἵν᾽ ἐκληρώθην καὶ προσετάχθην 100 | na horinha em que era sorteada e dada |
δούλη, πόλεως ἀπελαυνομένη | como serva! Rapinada da cidade |
τῆς Ἰλιάδος, λόγχης αἰχμῇ | de Ílion, por modo de lança pontuda, |
δοριθήρατος πρὸς Ἀχαιῶν, | caça alvejada por aqueus, |
οὐδὲν παθέων ἀποκουφίζουσ᾽, | em nada, pelos baques, te posso |
ἀλλ᾽ ἀγγελίας βάρος ἀραμένη 105 | acalmar; carregada com gordos |
μέγα σοί τε, γύναι, κῆρυξ ἀχέων. | fardos noticiosos, mulher, porta-voz |
ἐν γὰρ Ἀχαιῶν πλήρει ξυνόδῳ | ressoo: no agregado dos aqueus, em |
λέγεται δόξαι σὴν παῖδ᾽ Ἀχιλεῖ | massa, disseram ser bom deitar tua |
σφάγιον θέσθαι· τύμβου δ᾽ ἐπιβὰς | filha com Aquiles como expiação! Trepado |
οἶσθ᾽ ὅτε χρυσέοις ἐφάνη σὺν ὅπλοις, 110 | na tumba, viste qu’ele, co’armadura d’ouro, |
τὰς ποντοπόρους δ᾽ ἔσχε σχεδίας | fulgiu e reteve nos varadouros as singrantes |
λαίφη προτόνοις ἐπερειδομένας, | barcas com velas ao sotavento e que |
τάδε θωΰσσων· | isto trovejou: |
Ποῖ δή, Δαναοί,τὸν ἐμὸν τύμβον | “Mas pra onde, dânaos, debandais, |
στέλλεσθ᾽ ἀγέραστον ἀφέντες; 115 | largando minha tumba desonrada?”… |
πολλῆς δ᾽ ἔριδος συνέπαισε κλύδων, | Aí, travou-se caturrada aos borbotões, |
δόξα δ᾽ ἐχώρει δίχ᾽ ἀν᾽ Ἑλλήνων | dividiu-se a opinião na tropa guerreira |
στρατὸν αἰχμητήν, τοῖς μὲν διδόναι | dos gregos; uns achavam de dar |
τύμβῳ σφάγιον, τοῖς δ᾽ οὐχὶ δοκοῦν. | expiação pra tumba; outros, nem pensar. |
ἦν δὲ ὁ τὸ μὲν σὸν σπεύδων ἀγαθὸν 120 | Duma banda, ligeiro, em teu favor e por causa |
τῆς μαντιπόλου Βάκχης ἀνέχων | da ciganinha de Baco; se metia Agamenão, |
λέκτρ᾽ Ἀγαμέμνων· | fofando a cama! |
τὼ Θησείδα δ᾽, ὄζω Ἀθηνῶν, | Doutra, os dois Teseidas, ramo de Atenas, |
δισσῶν μύθων ῥήτορες ἦσαν, | por dúbias conversas, enredosos que eram, |
γνώμῃ δὲ μιᾷ συνεχωρείτην, 125 | uma sentença acordaram: em roda da |
τὸν Ἀχίλλειον τύμβον στεφανοῦν | tumba aquilonal, deitar sangue |
αἵματι χλωρῷ, τὰ δὲ Κασάνδρας | fresco; só que não falaram nada |
λέκτρ᾽ οὐκ ἐφάτην τῆς Ἀχιλείας | de Cassandra, de junto antepor |
πρόσθεν θήσειν ποτὲ λόγχης. | a cama desta à lança de Aquiles. |
σπουδαὶ δὲ λόγων κατατεινομένων 130 | Diligentes, no que desdobravam |
ἦσαν ἴσαι πως, πρὶν ὁ ποικιλόφρων | propostas, na mesma ficavam até que |
κόπις ἡδυλόγος δημοχαριστὴς | o argiloso do Laertida, alfinete- |
Λαερτιάδης πείθει στρατιὰν | macio-lero-lero-arrasta-gente, dobra |
μὴ τὸν ἄριστον Δαναῶν πάντων | a tropa: “Que não adieis degolas de |
δούλων σφαγίων εἵνεκ᾽ ἀπωθεῖν, 135 | servos para o melhor dos Dânaos e que, |
μηδέ τιν᾽ εἰπεῖν παρὰ Φερσεφόνῃ | ao lado de Perséfone, estacado, nenhum |
στάντα φθιμένων | dos mortos vá dizer |
ὡς ἀχάριστοι Δαναοὶ Δαναοῖς | aos Dânaos finados por causa dos gregos |
τοῖς οἰχομένοις ὑπὲρ Ἑλλήνων | que Dânaos mal-agradecidos |
Τροίας πεδίων ἀπέβησαν. 140 | desertaram a planura de Troia.” |
ἥξει δ᾽ Ὀδυσεὺς ὅσον οὐκ ἤδη, | E não é que logo-logo chegará Odisseu |
πῶλον ἀφέλξων σῶν ἀπὸ μαστῶν | pra levar a mulinha pra longe das tuas |
ἔκ τε γεραιᾶς χερὸς ὁρμήσων. | mamas, esvaziando uma velha mão? |
ἀλλ᾽ ἴθι ναούς, ἴθι πρὸς βωμούς, | Mas vai! Vai pros oratórios, altares, |
[ἵζ᾽ Ἀγαμέμνονος ἱκέτις γονάτων,] 145 | [põe-te súplice aos joelhos de Agamenão,] |
κήρυσσε θεοὺς τούς τ᾽ οὐρανίδας | e clama pelos deuses lá do céu e |
τούς θ᾽ ὑπὸ γαίαν. | mais os lá do fundo da terra. |
ἢ γάρ σε λιταὶ διακωλύσουσ᾽ | Ou as rezas te poupam da privação |
ὀρφανὸν εἶναι παιδὸς μελέας | da filha malsim, ou hás-de |
ἢ δεῖ σ᾽ ἐπιδεῖν τύμβou προπετῆ 150 | avistar, caída em decúbito dorsal, |
φοινισσομένην αἵματι παρθένον | esbraseada em sangue, uma donzela |
ἐκ χρυσοφόρου | co’a coleira dourada do |
δειρῆς νασμῷ μελαναυγεῖ. | pescoço e luzentes borbulhas em jorro escuro. |
Ἑκάβη | Hécuba |
οἲ ἐγὼ μελέα, τί ποτ᾽ ἀπύσω; | Osga malsim! Que vou bramir? |
ποίαν ἀχώ, ποῖον ὀδυρμόν, 155 | Qual melúria, que lamúria |
<καὶ> δειλαία δειλαίου γήρως, | <e> rabuja de rabugice senil, |
δουλείας τᾶς οὐ τλατᾶς, | pela intrigalha tralha servil, |
τᾶς οὐ φερτᾶς; ὤμοι. | intransportável?! Ô eu! |
τίς ἀμύνει μοι; ποία γέννα, | Quem me guarda? Que parente? |
ποία δὲ πόλις; φροῦδος πρέσβυς 160 | E que vila? Foi-se o primaz, |
φροῦδοι παῖδες. | os filhos se foram. |
ποίαν ἢ ταύταν ἢ κείναν
|
Como? Por aqui, por de lá, avanço? |
στείχω; ποῖ δ᾿ ἥσω; ποῦ τις θεῶν | Onde me apoio? Donde? Qual dos |
ἢ δαίμων ἐπαρωγός; | deuses ou bendito guardião me vem? |
ὦ κάκ᾽ ἐνεγκοῦσαι,
165 |
Ô carreteiras do azar, |
Τρῳάδες ὦ κάκ᾽ ἐνεγκοῦσαι | troianas, ô carreteiras do azado |
πήματ᾽, ἀπωλέσατ᾽ ὠλέσατ᾽· οὐκέτι μοι βίος | pesar, me levais a pó, a ruínas! Vida de glória que |
ἀγαστὸς ἐν φάει. | preste não há mais em mim. |
ὦ τλάμων ἅγησαί μοι πούς, | Ô padecente, me leva, pé! |
ἅγησαι τᾷ γηραιᾷ 170
πρὸς τάνδ᾽ αὐλάν; |
Leva a anciã
pro cercado! |
Direção Artística: Anita Mosca
Assistente de Direção: Anselmo Bandeira
Direção Musical e Fagote: Manuela Barbosa
Flauta: Fábio Viana
Voz: Clarice Viana
Atores de Cena: Cristiano Elias, Gabriel Demaria, Serena Rocha, Maria Viana
Direção de Tradução: Tereza Virgínia Ribeiro Barbosa
Atores de Tradução: Bruno Scomparin, Cristiano Elias, Maxwell Heringer, Serena Rocha, Vinicius Hespanhol; participação especial: Anna Thereza Brioschi Scomparin
Capa: Maria Cecília Ribeiro Barbosa