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La tara de Brache, Jean-Paul Pobel

Por Simone Gomes*
Editoria Aléxia Teles Duchowny
Apresentamos a seguir a tradução de um poema de Jean-Paul Pobel, aposentado, nascido e criado na região de Bresse, no sudeste da França, onde ele atualmente mora. Nessa região, além do francês, os moradores mais antigos, sexagenários ou septuagenários, falam uma língua românica denominada francoprovençal, chamada por eles mais familiarmente de patois. O francoprovençal encontra-se nos nossos dias em franco processo de desaparecimento, em decorrência da consolidação histórica do francês como língua nacional. Recentemente, no entanto, ele vem sendo objeto de projetos de recuperação e de revitalização linguística. O poema, escrito numa variante chamada bressan, fazendo referência a Bresse, região onde esta variante da língua é falada, narra as mudanças ocorridas na vida interiorana de seus falantes, em geral camponeses e pequenos produtores rurais, que viram a modernização alterar seu modo de vida e sua língua, que foi sendo abandonada pouco a pouco pelos habitantes que tiveram de deixar o campo e viver na cidade, onde o francês é dominante. Muitos desses falantes ou filhos de falantes têm retornado a sua terra natal e buscado, por meio da música, da literatura e de intervenções junto à comunidade, revalorizar e difundir a língua dos seus antepassados enquanto patrimônio cultural da região e marca identitária de uma comunidade que, embora falando predominantemente o francês, cultiva o amor à língua regional. Na tradução a seguir, optou-se por preservar a sintaxe e o sentido de cada verso, numa tradução mot-à-mot, que buscou ser o mais fiel possível à força de cada palavra.

Ta la Brache que m’a balya lou zhou,
Zhe te davou bin côque mou d’amou.
É dè ton vètrou que zhe me si fa.
É dè ta tara que zha étô fachounô.
É lou voualin de te sharizhe qu’on m’a apri lé premi pô.
Quemè lé zheunou de mon azhou,
Zha chôtô lé bazhanyon, lé tera pi lé bi.
T’ave plin de bouachon, u yo, qu’on tyulive dej’alanye.
Te tare pi té prô n’évon pô byè byo :
É t’avoua lé boue pi lé shevô qu’on travalyôve.
É ta jo cadanche que zha apri la posyèche
Pi lou plazi du travô byin fa.
Mé le seuje on byin shèzha tyè le mécanique pi lé tracteur chon t’arevô.
L’on tyeupô lé bouachon, l’on rasèblô léz’ectare.
É n’y ave pô mé de travô pe tou  lou mondou.
É t’a la vela qu’on ne tui parti,
È n’achèlème (HLM) que l’on apelô sètye.
Ya bin falu si abituô, mé é l’éve pô la méma sheuja.
É ne chintive pô mé lou fin tyeupô, ni mémou la tara moulya.
Mémou lez’étale n’avon pô lou mémou vezhazhou.
Yè n’a que chon parti louin, tinque a Pazhi pe sertin,
Mé l’on tui gardô dè on carou de jô téta
Ton amou que lé prè u fin fon de jô tyeu.
Quemè i ne pouijon pô che pôchô de ta,
Yè n’a byè que chon revenu.
L’échayon, quemè ma, de ne ryin ébleye de tou che que te léz’i a balya.
É pe sètye que tin que zhe pouzhe, é t’è patoua que zhe te shètezhe
Ta la Brache que m’a balya lou zhou,
Zhe te davou bin côque mou d’amou.
A ti, Bresse que me deu vida
Eu te devo sim umas palavras de amor
É no teu ventre que me fiz.
É na tua terra que fui moldado
Foi ao longo de teus caminhos que me ensinaram os primeiros passos
Como os jovens da minha idade,
Pulei barrancos, fossos e valas.
Eras cheia de arbustos onde colhíamos avelãs
Teus campos e teus prados nem eram tão vastos
Era com bois e cavalos que trabalhávamos
E foi em sua cadência que aprendi a paciência
E o prazer do trabalho bem feito.
Mas as coisas mudaram muito quando as máquinas e os tratores chegaram.
Cortaram os arbustos, anexaram os hectares.
Não havia mais trabalho pra todo mundo
E foi pra cidade que todos partimos
Viver nas habitações populares, HLM, como chamavam
Era preciso se habituar, mas não era mais a mesma coisa.
Não se sentia mais o cheiro do feno cortado, nem da terra molhada
Mesmo as estrelas não tinham mais o mesmo brilho.
Muitos partiram pra longe, alguns mesmo pra Paris
Mas todos levaram gravado na memória
Teu amor que os prende bem fundo no coração
Como não puderam te esquecer,
Muitos para ti retornaram.
E tentam, como eu, não esquecer tudo aquilo que nos deste
É por isso que enquanto eu puder, é em patois que te cantarei
A ti, Bresse que me deu vida,
Eu te devo sim umas palavras de amor.
* Simone Gomes. Linguista, doutoranda em Estudos Linguísticos na UFMG. Especialista no estudo de línguas românicas e de línguas em extinção, em especial a língua francoprovençal, falada no sudeste da França, onde realizou pesquisa de campo junto a um grupo de últimos falantes da língua.
 

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