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Aprendi nos livros e um cadiquinho na vida

Por Maurilo Andreas
O que um livro infantil ensina sobre a vida? Seriam as letras um substituto para o joelho ralado ou uma briga com o colega?

As fábulas, por exemplo, trazem óbvias na intenção de educar, de ensinar valores, de fazer pensar. É a moral da história, a lição aprendida ou pelo menos ensinada.

Na Idade Média as histórias infantis não tinham necessariamente a função de entreter. O objetivo muitas vezes era alertar, assustar para, sem exageros, salvar as vidas das crianças.
A bruxa na casa de doces no meio da floresta era didática. Pode parecer legal brincar nas profundezas do bosque, mas existe sempre a chance de que você seja devorado.

Questões de gênero, lidar com dores e frustrações, relações familiares, sociais e até mesmo políticas já entraram na pauta e nas bibliotecas das crianças.
Livros que abordam temas e preparam o espírito para a vida.

Mas volto à pergunta: basta ler para crescer? A descrição do sorvete (como fez magistralmente Drummond) substitui o gelado na garganta e o doce na língua?
Se não, como eu acredito, por que tratar destes temas? Por que não deixar que as crianças vivam o que precisam viver sem ter que ler sobre o assunto?

A questão chave me parece ser a diferença entre a sua experiência e a do outro. Histórias não substituem vivências, mas trazem outro olhar, outro ponto de vista, ampliam o horizonte que o medo estreitou, clareiam o que a dor escondeu.

Viver e ler são complementos, não se excluem. Apenas acrescentam um ao outro.

E assim como na vida nem tudo o que fazemos traz aprendizado ou reflexão, a rima segue igual na literatura. Às vezes basta ler algo engraçado, sem lição ou moral. Um poeminha bobo, uma aventura inútil, um “causo” inconsequente, que dê um toquinho no relógio e faça apenas aquele momento durar mais.

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