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O real, o imaginário e o que importa

Por Maurilo Andreas
Talvez a coisa mais deliciosa sobre crianças que lêem ou ouvem histórias seja a completa fusão entre fantasia e realidade a cada página. Elas se entregam aos personagens, “compram” a trama, se encantam com absurdos e loucuras.
O lobo mau é real, a bruxa, a fada, a magia, a casa de doces. Tudo existe porque está escrito, e se está escrito pode existir.
Aos poucos vamos criando fronteiras entre o real e o impossível, mesmo como leitores. Nos preocupamos em saber se a história é real quando isso é o que menos importa se ela nos faz sentir algo forte enquanto lemos.
Analisamos demais, pensamos virgules e conjunções, ousamos sugestões sobre o texto do autor, refraseamos, cortamos palavras, reescrevemos obras inteiras em nossas cabeças.
A experiência da leitura se transforma quando criamos essa passagem apertada demais para que entremos na história com força e alma.

É cliché, eu sei, mas fiz um boneco (tosquíssimo) de sabugo de milho para que ele virasse o Visconde. Procurei como um louco por uma garrafa de vidro azul para pegar o Saci. Sabia que era fantasia, mas vai que…
Por isso, ainda hoje tento ler como criança, sem fronteiras ou barreiras. Acredito na sociedade perfeita dos imperfeitos no “O Filho de Mil Homens” como se pudesse fazer parte dela amanhã.
Tenho a mais absoluta certeza de que cada um dos futuros apresentados em romances são não apenas possíveis, mas certos como dois e dois são quatro.
Se não for assim, ler se torna um exercício demasiado prático, excessivamente racional.
E assim vou, procurando barões em árvores e viscondes partidos ao meio, Vai que…
Texto publicado na edição #52 do jornal Letras.
 

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