You are here
Home > Edição 63 > Poemas de Balões Vítreos de Lucíola Macêdo

Poemas de Balões Vítreos de Lucíola Macêdo

se fosses uma canção
sei que cantarias
noites sem lua
celebrarias a insônia
dos céus
atiçando as áspides mais
venenosas da Baía da Traição
em louvores a Iansã
acenderias o fogo
por entre águas
evocarias os charcos
clamarias por voragens
alvoroço e ventanias

 

Joyce lê a página quarenta e quatro do livro em aramaico sobre navalhas feitas para afiar vocábulos do segundo volume de seu inacabado Finnegans wake. noites e noites insones imerso em ladear incessante o levam a concluir que lâminas ondeantes fracassam em talhar as palavras borbulhantes boiando na tigela de sopa de letrinhas sobre a mesa da copa. as línguas vivas já não lhe bastam. foi preciso encontrar o chiado da jurupoca e a língua dos canindés que desde a expulsão das margens do Choró gorjeiam como o pássaro homônimo. aquele cujo canto se derrama pelos quatro cantos do sertão

o fluxo do texto é bruscamente interrompido por um estrondoso barulho vindo de dentro da geladeira. contrariado ele abre a porta. nada havia de errado. Os objetos permanecem como sempre estiveram. dispostos entre as gavetas e as prateleiras metodicamente organizadas. ele fecha a porta e volta ao trançado entre o maxacali e o Apurinã. seu exuberante léxico embevecido pela sonoridade da língua dos atikuns. sem esquecer dos xucuru pipipã e tuxá

o rumorejante ruído o desvia novamente do texto. ele abre a porta. nada há de incomum. fechando novamente a porta suspeita que o estrondo venha de algum lugar outro. quiçá do eco álgido sibilante de seu próprio pensamento kxkbgçsgjdngbnmbbjfgsjrernfvmadvmgkerqhlkrbdfangkq

Deixe um comentário

Top