Tradução de Sérgio Alcides
Crow Hears Fate Knock on the Door Crow looked at the world, mountainously heaped. He looked at the heavens, littering away Beyond every limit. He looked in front of his feet at the little stream Chugging on like an auxiliary motor Fastened to this infinite engine. He imagined the whole engineering Of its assembly, repairs and maintenance – And felt helpless. He plucked grass-heads and gazed into them Waiting for first instructions. He studied a stone from the stream. He found a dead mole and slowly he took it apart Then stared at the gobbets, feeling helpless. He walked, he walked Letting the translucent starry spaces Blow in his ear cluelessly. Yet the prophecy inside him, like a grimace, Was i will measure it all and own it all and i will be inside it as inside my own laughter and not staring out at it through walls of my eye’s cold quarantine from a buried cell of bloody blackness – This prophecy was inside him, like a steel spring Slowly rending the vital fibres. |
Corvo ouve o destino batendo à porta Corvo estava olhando o mundo, empilhado aos montes. Ele estava olhando o céu, que se espalhava afora Além de qualquer limite. Ele estava olhando a seus pés o riacho Estalando tal qual um motor auxiliar Atrelado a esse infinito engenho. Ele estava imaginando toda a engenharia De montagem, os reparos, a manutenção – Até ficar aturdido. Arrancou tufos de mato a fim de observá-los À espera de instruções iniciais. Estudou uma pedra do riacho. Achou uma toupeira morta, que dissecou devagar, Depois ficou vendo os nacos, aturdido. Foi andando, caminhando De modo que os espaços estrelados translucentes Tocassem-lhe os ouvidos sem nenhuma pista. Mas dentro dele a profecia, fazendo uma careta, Dizia tudo isso hei de medir e possuir e vou ficar por dentro disso tudo como estou por dentro do meu riso e não olhando de fora desde os muros da quarentena gélida dos olhos enterrado na treva de uma cela de sangue – Essa profecia estava dentro dele, como uma mola de aço Rasgando aos poucos as fibras vitais. |
A Disaster There came news of a word. Crow saw it killing men. He ate well. He saw it bulldozing Whole cities to rubble. Again he ate well. He saw its excreta poisoning seas. He became watchful. He saw its breath burning whole lands To dusty char. He flew clear and peered. The word oozed its way, all mouth, Earless, eyeless. He saw it sucking the cities Like the nipples of a sow Drinking out all the people Till there were none left, All digested inside the word. Ravenous, the word tried its great lips On the earth’s bulge, like a giant lamprey – There it started to suck. But its effort weakened. It could digest nothing but people. So there it shrank, wrinkling weaker, Puddling Like a collapsing mushroom. Finally, a drying salty lake. Its era was over. All that remained of it a brittle desert Dazzling with the bones of earth’s people Where Crow walked and mused. |
Um desastre Correu a notícia de uma palavra. Corvo a viu matando gente. Comeu foi bem. Ele a viu reduzindo a escombros Cidades inteiras. Outra vez, comeu foi bem. Ele viu os excrementos dela envenenando os mares. Ele aí se pôs vigilante. Ele viu o hálito dela incendiando regiões inteiras Que viraram fuligem. Ele bateu asas e espiou de longe. A palavra foi escorrendo, toda boca, Olho não tinha, nem ouvido. Ele a viu chupando as cidades Como quem chupa as tetas de uma porca Bebendo toda a gente Até não sobrar ninguém, Tudo digerido na palavra adentro. Faminta, a palavra encostou os grandes beiços Na pança da terra, feito uma lampréia gigante – E começou a chupar. Mas seu esforço minguou. Ela não digeria nada, só gente. E foi encolhendo, engelhando-se mais fraca, Chafurdando Como um cogumelo chocho. Enfim, um lago salobre que seca. Sua era acabara. Só restava dela um deserto roto Ofuscante com os ossos da gente da terra Por onde Corvo andava e divagava. |
Crow’s Fall When Crow was white he decided the sun was too white. He decided it glared much too whitely. He decided to attack it and defeat it. He got his strength flush and in full glitter. He clawed and fluffed his rage up. He aimed his beak direct at the sun’s centre. He laughed himself to the centre of himself And attacked. At his battle cry trees grew suddenly old, Shadows flattened. But the sun brightened – It brightened, and Crow returned charred black. He opened his mouth but what came out was charred black. ‘Up there,’ he managed, ‘Where white is black and black is white, I won.’ |
A queda de Corvo Corvo cismou quando era branco que o sol era branco demais. Cismou que ele reluzia branco demais. Cismou que ia atacá-lo e derrotá-lo. Acendeu sua força até o máximo fulgor. Pegou firme na raiva, inflando-a. Apontou o bico bem para o centro do sol. Partiu de rir até cair no centro de si mesmo E atacou. Ao seu grito de guerra as árvores de súbito Envelheceram e as sombras achataram. Mas o sol brilhava – Brilhava, e Corvo ao retornar era um tição. Abriu a boca mas o que saiu de dentro era tudo tição. “Lá em cima”, resmungou, “Onde o branco é preto e o preto é branco, venci eu”. |