Por Leonardo Avritzer
Editoria Ana Caetano
Conheci Jacob Guinsburg em 1995 quando fui à Editora Perspectiva levar o manuscrito do meu livro “A Moralidade da Democracia”. Naquela oportunidade, conversamos por mais de uma hora sobre diversos assuntos. Ele me perguntou se eu tinha alguma sugestão de algum autor internacional a ser publicado pela editora. Lembro-me de ter sugerido que ele publicasse alguns livros de Levinas. Discutimos o assunto, mas ele era muito cético se havia no Brasil leitores suficientes para esse autor. Lembro-me também que, na dúvida, ele chamou as duas pessoas que o ajudavam na editora, sua esposa Gita Ginsburg e Fanny Kon. Ambas constituíram junto com ele a equipe fundamental da editora e seu ponto de apoio. Minha conversa com Jacob transcorreu muito bem e, ao final, ele me pediu para deixar o manuscrito que, naquela época, era apenas um conjunto de papéis impressos que eu havia levado debaixo do braço. Ela falou que enviaria para avaliação. Com efeito, depois de alguns meses, recebi um parecer, algo absolutamente incomum em qualquer outra editora no Brasil naquela época, recomendando a publicação do livro. Ele foi publicado pela editora um ano depois. Conversei ainda algumas vezes com Jacob por telefone e ele me disse que o procurasse em São Paulo quando lá estivesse. Algo que nunca fiz. Ficou mesmo foi a lembrança da nossa única conversa.
Jacob Ginsburg e a editora Perspectiva cumpriram, nas últimas décadas, um papel central na vida cultural de um país no qual ser editor não é fácil e, a cada crise, algumas editoras e livrarias fecham. Enquanto outras editoras diminuíam o seu público e mudavam seus projetos editoriais, a cada uma dessas crises, a Perspectiva manteve um projeto editorial ímpar, lançando no Brasil autores fundamentais como Hannah Arendt e Umberto Eco. Mas não foi só de autores internacionais que a Perspectiva viveu. Ela foi a casa preferida de autores brasileiros como Décio Pignatari, Augusto e Haroldo de Campos entre diversos outros. É possível dizer que, como editor, Jacob Guinsburg entendeu o cerne da atividade: encontrar novos atores e assumir o risco do livro. Sem dúvida, ele acertou muito mais do que errou numa atividade que é muito mais fácil errar do que acertar. Não poderia terminar esta pequena nota em homenagem a Jacob Guinsburg sem mencionar a sua obra. O seu livro “Idich. As Aventuras de uma língua errante” é, com certeza, o melhor livro disponível sobre o assunto. As suas obras sobre teatro russo também se destacaram pela qualidade e originalidade. Jacob Guinsburg deixa um legado de seriedade e consistência que sobreviverá por muitas gerações.