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Poesia árabe – A fertilidade dos desertos e dos oásis

Por Marcelo Dolabela
Editoria Ana Caetano

O primeiro contato que tive com a poesia árabe foi ainda criança, em meados da década de 1960, quando cruzei, na biblioteca de meu pai, com a Coleção Rubaíyat, da Livraria José Olympio, quando conheci os poetas Hafiz (1315-1390), Omar Kháyyám (1048-1131) e Saadí (1184-1291. O poeta faleceu com 107 anos).

Minha jornada continuou, principalmente com as várias leituras e versões do Rubaíyat de Kháyyám. Mais recentemente, ampliei minhas pesquisas, quando estive, em 2015, na Península Ibérica e conheci Granada e a suntuosidade do Alhambra. Tendo um maior contato com a poesia de Umar Ibn Abi Rabi’Ah, que viveu e morreu em Meca (644-719). Para muitos, o melhor poeta do mundo árabe. Poeta do amor sensual e urbano dos amantes e de suas vicissitudes.

Segundo Josefina Veglison Elías de Molinas, “a poesia de Umar tem um valor inapreciável: reflete a liberdade de movimentos de que gozava a mulher muçulmana em sua época”. Para muitos estudiosos, Umar foi o criador do gazal (ou gazel, ghazal / ghazal) que, em livre tradução, significa galanteio, requebro ou, simplesmente, poesia erótica. Que possui no máximo 15 dísticos, sendo que o primeiro e o último rimam entre si, e os demais com rimas em AB CB DB… O gazal está para a poesia árabe, assim como haicai, para a poesia japonesa, e a quadra / trova para a poesia do universo lusófono.

No Brasil, dois exemplos são os mais citados: “Gazal em louvor de Hafiz”, de Manuel Bandeira (1886-1958); e “Gazel”, de Goulart de Andrade (1881-1936). A poesia de Umar – ou melhor, Aby l-Khattab Omar Ibn Abd Allah Ibn Abi Rabia al- Moghaira Ibn Abd Allah Ibn Omar Ibn Makhzum Ibn Yakaza Ibn Murra al-Makhzumi é um dos mais perfeitos exercícios do imaginismo sensual. Sendo a beleza da amada e a do próprio poeta o centro de todos osolhares e desejos. Estes dois poemas ilustram estes olhares e desejos.

Conversa

Despida um dia por causa do calor, ela perguntou às vizinhas:
Vocês me veem como ele me vê ou ele exagera?
E rindo uma com a outra, com ciúme, elas responderam:
A pessoa amada a todos os olhos parece bela.
Tão velha quanto o homem é o ciúme.

Elas estavam me descrevendo,
Quando me viram reluzente de beleza,
Assim como eu realmente sou.
Perguntou a mais velha: Vocês conhecem aquele homem?
A amiga disse: Sim, é Umar.
A mais jovem, cheia de amor: É claro que reconhecemos,
A Lua pode passar despercebida?

 

Tradução: Maria Regina Lage Guerra e Marcelo Dolabela

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