Por Carla Marin
Patrimônio, em uma definição das mais simples e intuitivas, é aquilo que se tem – seja em uma perspectiva pessoal, seja quando nos referimos a algo comum, o sentido é tão amplo quanto a diversidade das sensações que essa simplicidade evoca.
E o que, então, temos? Nesses tempos em que temos sido tão confrontados com a efemeridade, a resposta é menos óbvia do que parece. Se mesmo as sólidas montanhas vão aos poucos desaparecendo diante dos nossos olhos, metafórica e literalmente, nesse mundo em transformação frenética, o que dizer dos momentos, das experiências, dos “jeitos de fazer”?
Nesta edição do Letras, percorremos diversas formas de nos conectar com o que “temos” – seja pela expressão artística, pela dedicação acadêmica, pelo sentimento de urgência em (re)encontrar e guardar recortes do tempo, lugares, pessoas, coisas e saberes. Do registro fotográfico à pesquisa que mergulha, compreende e sistematiza; do registro em palavras que compartilha a gênese de uma obra ao reconhecimento do valor histórico de canções atemporais. Os olhares dos nossos queridos editores abrem perspectivas, mostrando quepatrimônio tem, sim, a ver com “guardar”, e também com ressignificar e renovar, com passado e futuro se encontrando no presente, no todo-dia de todos nós; que patrimônio tem a ver com aquilo que permanece enquanto a vida segue em movimento.
Temos, então, a memória; temos imagens, palavras, aprendizado e conhecimento construído. E temos, sempre, a possibilidade do resgate, da recuperação e da preservação. E nessa sensação de contínua “luta contra o efêmero”, corrijo aquela definição intuitiva – patrimônio não é o que temos; é o meu, o seu e o nosso que fica – na vida, na arte, na cidade, na mente e no coração.
Boa leitura!
Textos da Edição 63
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